Sucesso não existe sem dor - Entrevista

Por: Janguiê Diniz
01 de Jul de 2003

Almejar o sucesso é o sonho de qualquer pessoa. Mas, para consegui-lo o caminho é muito longo e por muitas vezes difícil. Isso quem nos diz é o paraibano José Janguiê Bezerra Diniz que conseguiu realizar todos os seus sonhos: abrir uma Faculdade, fazer mestrado e doutorado, além de ser um grande procurador do Trabalho.


Nesta entrevista exclusiva, José Janguiê conta um pouco de sua vida e como percorreu o caminho para o sucesso. Além disso, ensina a toda pessoa que pretende chegar lá, que não existe sucesso sem dor, é preciso abrir mão de algo.


Revista Prática Jurídica — Que atividade profissional o senhor exerce hoje?
José Jânguiê Bezerra Diniz — Atualmente, estou exercendo o cargo de Procurador Regional do Ministério Público do Trabalho, na Procuradoria Regional do Trabalho da 6ª Região, no Recife (PE). Desde setembro de 1999 estou exercendo o cargo de Procurador Regional Chefe designado pelo Procurador-Geral do Trabalho.


Prática Jurídica — Conte-nos um pouco da sua experiência de vida até chegar aqui?
José Janguiê — Minha vida sempre foi cheia de lutas. Aos cinco anos de idade, saí da pequena cidade onde nasci, Santana dos Garrotes no sertão paraibano, e juntamente com meus pais, que, analfabetos, fugiam da seca, me dirigi para o Mato Grosso do Sul. Morei na cidade de Naviraí por cinco anos. Posteriormente, mais uma vez fugindo das dificuldades financeiras, fomos morar na cidade de Pimenta Bueno no Estado de Rondônia. Lá meu pai trabalhava como gato, Ou seja: agenciava trabalhadores para fazer as chamadas derrubadas nas grandes fazendas. Eu e meus irmãos trabalhávamos em diversas atividades. Em Pimenta Bueno, fiz de tudo um pouco. Fui engraxate, vendedor de laranjas e picolés nas ruas, de casa em casa, trabalhei em bar; em escritórios como office-boy, em lojas de roupas como vendedor; fui até locutor de rádio.


Quando conclui o ensino fundamental, o então chamado primeiro grau, como não existia o segundo grau, hoje ensino médio, em nenhum colégio da cidade de Pimenta Bueno, chamei meu pai e disselhe: estou indo embora morar no Nordeste onde eu possa estudar e Vencer' Ele baixou a cabeça e disse: siga o seu caminho, Peguei um ônibus, passei cinco dias na estrada de Pimenta Bueno a Cuiabá pois na época a BR 364 que ligava Pimenta Bueno, em Rondônia a Cuiabá era de barro, puro atoleiro. Com oito dias de viagem cheguei a João Pessoa, na casa da minha falecida tia Irene Bezerra, a quem devo muito na minha Vida. Com a ajuda de um primo, Severno Bezerra Netoy matriculei-me no Colégio Estadual Liceu Paraibano e fiz o primeiro ano científico, hoje ensino médio. Após terminar o ano, eu vi que João Pessoa não era a cidade onde eu podia vencer. Aí resolvi ir morar no Recife, Pernambuco, chegando lá procurei uma das pessoas mais importantes na minha vida, o advogado Nivan Bezerra da Costa, irmão de minha mãe. Ele me perguntou se eu sabia fazer alguma coisa, e eu podia ir morar num pequeno quarto no oitão de uma gráfica, pois eu só podia ficar lá se pudesse trabalhar e pagar pela estada. Disse-lhe que era um bom datilógrafo, e, como na época não existia computador, tornei-me o melhor escrevente de seu escritório de advocacia. O escritório de meu tio norteou a minha vida. Tirei da cabeça a vontade de ser médico, e passei a estudar para ser advogado.


Trabalhava de dia e estudava de noite. Foram árduas e extenuantes horas de trabalho e estudo, mas, com muito esforço, e apesar de estudar em colégio não muito bom, pois como ganhava um salário mínimo por mês, não podia pagar, consegui passar no vestibular de Direito da velha Faculdade de Direito do Recife, da UFPE, a chamada casa de Tobias. A partir daí minha vida mudou. Comecei a ganhar mais dinheiro, e não apenas um salário mínimo por mês, fiz o curso de inglês e francês, fiz o curso de Letras na Universidade Católica de Pernambuco, e, em 1987, aos vinte e dois anos me formei em Direito e em Letras. Montei o meu escritório e advoguei por quatro anos.


Prática Jurídica — O senhor prestou concurso para juiz, foi aprovado e não quis exercer o cargo. Por quaL motivo tomou essa decisão?
José Janguiê — Em 1991 como as coisas no escritório não iam muito boas, comecei a estudar para ser juiz. Fiz um planejamento de estudos de um ano, e metodicamente, estudava impreterivelmente seis horas por dia, sábados, domingos e feriados, das seis da manhã ao meio dia, e trabalhava à tarde e à noite. Depois de alguns malogros consegui passar no concurso de Juiz do Trabalho do TRT da 6a Região. Tomei posse e exerci o cargo por quase um ano. Quando juiz, vi que a magistratura era uma profissão maravilhosa, porém tomava muito tempo da minha vida. Eu queria ter mais tempo para me dedicar a outras coisas. Queria ser mestre, ser doutor, queria criar um grande centro de estudos jurídicos, queria Criar uma Faculdade de Direito, um Complexo Educacional de Ensino e Pesquisa. Por conseguinte, resolvi fazer o concurso para o Ministério Público do Trabalho, e, em 23 de dezembro de 1 993, tomei posse no cargo de Procurador do Trabalho do Ministério Público da União perante a Procuradoria do Trabalho da 6a Região no Recife (PE), Como Bureau Jurídico — Complexo Educacional de Ensino e Pesquisa, instituto encarregado de preparar candidatos para concursos públicos e realizar congressos jurídicos, criei o BJ Colégio e Curso, e a Faculdade Maurício de Nassau, com vários cursos superiores nas diversas áreas do conhecimento humano.


Prática Jurídica — O senhor promove grandes congressos no Recife e estes estão sempre com um bom número de participantes. A que se deve tanto sucesso?
José Janguiê — Como disse anteriormente, o Bureau Jurídico — Complexo Educacional de Ensino e Pesquisa que criei, em 1993, hoje é o maior centro de estudos jurídicos do Norte e Nordeste. Uma das atividades principais do centro é a realização de grandes congressos jurídicos. Já realizamos dezenas de grandes congressos jurídicos em diversas áreas da ciência jurídica e em diversos locais do Brasil e do mundo. O Bureau já fez congresso nos Estados Unidos da América, na Espanha e até na Itália. No Recife, o palco do maior número de congressos do Bureau, sempre no mês de maio e outubro de cada ano realizamos um congresso para se debaterem as mais diversas teses jurídicas de todas as áreas do Direito. Nos nossos congressos, a média de público é de 2 mil pessoas.


Para se ter uma ideia, em 1999, realizamos o Congresso Mundial de Direito Processual, que contou com 119 conferencistas do Brasil e do mundo e mais de 7 mil participantes. Acho que o grande sucesso dos nossos congressos consiste na seriedade com que são realizados, na atualidade dos temas, na qualidade dos conferencistas, no nome do Bureau já conhecido nacionalmente e na assiduidade com que eles são realizados. Sempre nos meses de maio e outubro, geralmente no Recife eles acontecem.


Prática Jurídica — Como foi a experiência de ser reitor de uma grande universidade ainda tão moço?
José Janguiê — Algo que eu não falei nos tópicos acima foi a experiência de ser reitor de uma grande universidade particular. Antes de criar a Faculdade Maurício de Nassau, o Bureau Jurídico associou-se a um grande grupo universitário e tive a oportunidade de criar um campus avançado no Recife. Durante um ano e meio exerci o cargo de reitor daquele campus. Foi uma experiência sem igual, pois pude implementar as minhas ideias numa universidade, tendo, até mesmo aprendido muito do ramo e estou aplicando na Faculdade Maurício de Nassau, da qual sou o Diretor-Geral.


Prática Jurídica — Em decorrência dos muitos trabalhos exercidos, o senhor sofreu algumas enfermidades que são preocupantes, como a tuberculose, é preciso, realmente, muito trabalho, para se conseguir o sucesso? E válido abrir mão até mesmo de uma boa saúde?
José Janguiê — A busca do sucesso tem bônus e ônus: um dos ônus é a renúncia ao lazer e ao convívio da família e dos amigos. Outras são as sequelas que o estudo e o trabalho árduo e incessante lhe podem causar, como o contágio por doenças. Quando estudava na preparação dos concursos, não dormia e nem comia direito, chegando a contrair tuberculose. Nas labutas diuturnas o estresse é imenso e, devido a ele contrai uma doença chamada "acalasia" no esôfago, que consiste no estreitamento do órgão, tendo que me submeter à intervenção cirúrgica, embora tenho sequelas até hoje. Na atualidade procuro me estressar menos para tentar usufruir o que construí e conviver mais com minha família Sucesso é sinônimo de dor e de renúncia das coisas boas da vida, sem renúncia e sem dor, inexiste sucesso. A opção fica ao alvedrio de cada um.


Prática Jurídica — Na sua perspectiva, qual o ramo do Direito que oferece maior mercado de trabalho aos futuros profissionais?
José Janguiê — O Direito, além de ser uma ciência enriquecedora, atualmente oferece um grande leque de opções de trabalho. Hoje, o profissional do Direito pode ser advogado militante, juiz, promotor, proa curador, defensor público, advogado do Estado, além de poder prestar concursos para tantas outras áreas. Além disso, o bacharel em Direito adquire uma visão muito ampla das coisas. Pode ser empresário com mais facilidade, pois é conhecedora fundo das leis que regem a sociedade. Sabe de seus direitos e de seus deveres. Além disso, õ Direito está-se ampliando ainda mais. Hoje temos, além dos ramos tradicionais do Direito, o Direito da Informática, o Direito Bancário, o Direito Autoral, o Direito de Marcas e Patentes, etc., todos eles carentes ainda de bons profissionais. Agora, o ramo de Direito que na minha ótica oferece um maior mercado é o Direito do Trabalho porquanto.


Prática Jurídica — O senhor, com 39 anos, já é dono de uma Faculdade de Direito. Conte-nos um pouco como foi esta fase na sua vida? O que foi mais importante neste período?
José Janguiê — Sempre foi um sonho criar uma instituição de ensino superiora. Tanto é que em 1999 o Bureau Jurídico que criei se associou a um grupo universitário do Sul e montamos, no Recife, um campus avançado. Entretanto, minhas ideais eram diferentes das dos parceiros. Sempre pretendi criar uma instituição com a cara do Recife e de Pernambuco, haja vista que o Recife sempre foi palco de grandes debates jurídicos, Em Pernambuco tivemos a primeira Faculdade de Direito do Brasil, juntamente com a de São Paulo. Neste Estado estudaram os grandes juristas brasileiros do passado. Como as ideias eram diferentes, nos separamos e eu criei a Faculdade Maurício de Nassau, que até no nome tem a cara de Pernambuco. Surge como mais um empreendi- mento do Bureau Jurídico, agora na área da educação superior — ÉSBJ — Ensino Superior Bureàu Jurídico Ltda. — numa homenagem ao conde João Maurício de Nassau-Siegen (Johann Mauritius van Nassau Siegen) que no período de 1637 a 1644, governou Pernambuco a colônia holandesa no Brasil 'E— a Nova Holanda —r. em nome da Cia. Holandesa das Índias Ocidentais, É uma Instituição de educação superior formadora de cidadãos e profissionais competentes e compromissados Com o desenvolvimento regional e na- Clonal e com a preservação e divulgação da história de Pernambuco e de seus fundadores e pioneiros. Ela nasce para resgatar a história do Recife e para oferecer aos seus alunos, professores e funcionários a oportunidade dum desenvolvimento integral. Como o seu próprio nome revela, nasce com forte compro- misso de sua inserção regional. Em todos os seus cursos de graduação e em seus cursos e programas de pós-graduação, há espaço acadêmico, sob a forma de atividades complementares, seminários, simpósios e eventos similares, para o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre as origens de Pernambuco, seus fundadores e líderes. Sua gente, enfim, visto que este é certamente o maior patrimônio pernambucano. Por fim, cumpre registrar que a Faculdade Maurício de Nassau tem por objetivo, em seus cursos de graduação, formar cidadãos e profissionais qualificados, compromissados com O seu desenvolvimento pessoal e profissionais e com o crescimento socioeconômico de Pernambuco e de toda a região Nordeste.


Prática Jurídica — Como um profissional de sucesso, o que o senhor tem á dizer aos estudantes de Direito que buscam também êxito na carreira profissional?
José Janguiê — Minha mensagem para os estudantes de Direito é que, primeiramente decidam o que que rem fazer, o que querem ser, o que querem adquirir e onde querem chegar com o Direito. Uma vez feita a escolha, tracem metas de médio e longo prazos, planejem e renunciem um pouco ao lazer à família e aos amigos para que elas sejam cumpridas, e com certeza será um profissional de sucesso. Por fim, nunca esqueçam de que sucesso vem acompanhado de certa dose de dor. Sem dor não existe sucesso.

Transformando

Sonhos em Realidade

Na primeira parte da minha autobiografia, conto minha trajetória, desde a infância pobre por diversos lugares do Brasil, até a fundação do grupo Ser Educacional e sua entrada na Bolsa de Valores, o maior IPO da educação brasileira. Diversos sonhos que foram transformados em realidade.

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